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2015.09.16

Falem mal, mas falem dos outros

A melhor coisa quando a gente não vai ter qualquer ganho numa discussão é sair dela. Neste clima pesado de eleições, nada melhor que fugir desse assunto. Mas há quem dê um passo mais radical. Um Lobão da vida, que opta por fugir do país para evitar inclusive a memória que o Brasil traz. Ainda bem que não falou em largar mão de viver.

Soube que ele voltou atrás.

Estamos no auge do uso da internet e das redes sociais para expor o que achamos. Todas as ideias que não temos ideia do que significam. Mas ficam muito maneiras quando retweetamos e compartilhamos. Ainda mais se tiver uma hashtag maneira rolando e memes para serem mandados como spam para todos os grupos de WhatsApp.

Se você já é adepto das redes sociais já percebeu que a #GloboMente e que #VejaLixo não são fontes mais seguras de informação. Dizem. O que está mais em moda é a verdade vinda das pessoas mesmo, de carne e osso, que compartilham o furo de reportagem mais realistas e verdadeiros que podem existir.

#SQN

Bom ao menos não totalmente.

Estes grandes veículos colocam o nome, a cara e o endereço em tudo que escrevem. É fácil apontar quando qualquer um está sendo parcial e tendencioso. Mas quem não viu um post no Facebook sobre uma notícia completamente mentirosa? Que hashtag usamos para humilhar a e dirimir a imagem do autor, da mesma maneira que se faz com a imprensa? #JoseDaSilvaLixo?

Muitas vezes estes textos que se espalham não são anônimos, mas são bem difíceis de se conhecer a real fonte.

A nova onda das redes é o efeito manada, ou efeito de grupo. O que tem de gente que está pregando a liberdade, o movimento LGBT, as bicicletas, a energia solar e até Jesus e Maomé… Tudo com frases de ódio. Tão comum que nem percebem. E vão ainda negar que são agressivos. “Luto pela causa”, vão dizer.

Se o outro lado faz o mesmo não é tratado com o mesmo respeito. #ChupaBolsonaro, coxinhas, os da direita, FHC… todos eles são vilões. Ninguém quer ouvir quaisquer opiniões contrárias. Só quem confirma meus preconceitos é amigo. Na era das redes sociais, é uma rede contra a outra. Não há espaço para diálogo; apenas monólogo.

Acho que vou sair do país. Ou sair do Facebook.

Mé… prefiro ficar calado lá e assistir o povo se matando super se achando que estão fazendo o bem pregando a verdade… deles.

Que Horas Ela Volta? feature
2015.09.12

Que Horas Ela Volta?

Prefiro o título em inglês; Segunda Mãe. Menos forte no ponto de vista do marketing, mas diz mais sobre o que veio. O filme faz uma crítica ao preconceito contra os pobres e imigrantes que se sujeitam a trabalhar na cidade grande, deixando a família para trás (mas com uma grande ferida no peito causada pela enorme saudade). A família rica mal nota a presença da criada e faxineira, se comporta como se fossem os melhores amigos e melhores patrões, mas tudo isso numa máscara de hipocrisia.

Regina Casé, a criada, é bem solitária mas aprendeu a lidar com sua posição no mundo. Não parece sofrer particularmente com isso todo dia. Com seus pequenos luxos, ela vai levando a vida, dia a dia. Cuida do filho dos patrões como se fosse uma mãe. Ela tem enorme carinho por todos, mesmo vivendo numa realidade completamente diferente.

Que horas ela volta 2.jpg

Só com a chegada inesperada da filha é que seus valores com a vida começam a ser questionados. A filha é rebelde e de personalidade forte, crítica com tudo que vê e ouve e bota em cheque o modo em que a mãe vive e trabalha. A doméstica que teve sempre respeito pelos patrões começa a questionar se a filha não está certa e tudo não poderia ser diferente.

Regina Casé mostra que é uma excelente atriz cômica, mesmo em momentos mais dramáticos. Os outros personagens são demasiadamente caricatos, mas passam a mensagem.

Minha Nota: 8★★★★★★★★
Metacritic: 82
Rotten Tomatoes: 97
2014.10.01

Os papéis de advogado e juiz ficam misturados por aqueles que advogam por seus ideais

INOVApps Ticado feature
2014.09.22

INOVApps Ticado

Como dito anteriormente, eu estava bem interessado em entrar na competição do INOVApps, um concurso do Ministério das Comunicações para criação de aplicativos e jogos educativos ou de utilidade pública.

Por ser um indie (a caminho de ser um profissional em tempo integral) a alguns anos, eu tenho muito material já criado. Eu gosto muito de experimentar e já tenho diversos protótipos e ideias já começados. Material não faltaria para uma adaptação.

O concurso avalia somente a documentação do projeto e o produto. Isso significa que todos os jogos, protótipos e testes que eu já fiz, joguei e compartilhei com amigos não contam muito. Teria de transformar isso em palavras: seu funcionamento, as dificuldades de um eventual projeto a quais as experiências ao jogar.

Como o concurso permitia inscrever até 2 projetos por pessoa, acabei inscrevendo 2 jogos: Cidades Maravilhosas e Linha do Conhecimento.

Cidades 2 bmaravilhosas 2 blogo.jpg

Cidades Maravilhosas é um jogo sobre construir uma cidade. Em cada rodada o jogador constrói uma nova obra na cidade. Cada obra traz alguns benefícios (e às vezes malefícios) a cidade e eles são bem dependentes da sua localização (nenhuma residência quer ficar próxima a um lixão ou aeroporto barulhento). E como a lista de obras é única para todos os jogadores, se alguém fizer um estádio, as outras cidades vão ficar sem ele. É importante balancear cuidadosamente a distribuição da cidade. Ganha quem tiver a cidade mais desenvolvida (maior população).

Linha 2 bdo 2 bconhecimento.jpg

Linha do Conhecimento é sobre educação, mais propriamente História do Brasil sem ser decoreba. O jogo começa com dois eventos históricos na “mesa”. Cada jogador terá uma lista de eventos históricos na mão e tem de dizer se eles vêm antes, depois ou entre estes dois eventos. Simples não?! Simples, mas muito divertido. Eu já joguei este jogo sem qualquer arte com alguns grupos de amigo, só com textos e figuras genéricas e a aceitação foi enorme. Ele dá tanto para ser usado numa sala de aula como numa roda de amigos.

Documentos

Com a cada dia mais eminente estreia do primeiro jogo oficial da Gamenific, Picubic, minha atenção ficou bem dividida. E tudo isso trabalhando só depois do expediente, na madrugada. Foi um enorme desafio vender a ideia a alguns artistas talentosos que conheço e fazer eles mergulharem no projeto. No final, fiquei contente com os que aceitaram: Tom e Ricardo são experientes e tem um estilo muito diferente da abordagem tradicional, e só com o pouco que já criaram penso que vai dar aos avaliadores uma boa impressão.

Gravei uma série de vídeos para os dois jogos. Mas só deu tempo de produzir o do Cidades Maravilhosas, pois Ricardo tinha já muitos compromissos (lembrando que o concurso foi anunciado a 1 mês). Tentamos passar tanto a ideia do projeto como uma passada de projetos passados.

Linha do Conhecimento ficou prejudicado por não ter sido minha escolha inicial. Eu tinha planejado criar um jogo sobre segurança pública, “Segurança e Inteligência”, mas após escrever, gravar, prototipar, julguei que não estava na pegada correta para um concurso de jogos sérios/educativos. Então tomamos a decisão de trocar. Eu apostava no Linha do Conhecimento como um backup, pois era um projeto mais antigo, mas depois que optamos por promovê-lo, tentamos que revisitar os códigos para ver se ele ainda era divertido mesmo.

Agora não é Esperar

No final das contas, penso que ambos os projetos são ótimos. Como os jurados nunca jogaram e terão de sentir isso somente lendo um documento, tudo é possível. Enquanto isso, eu vou manter o desenvolvimento andando num ritmo básico, pois se os projetos forem selecionados, eu posso já ter adiantado um pouco do trabalho. Se não for, tenho total interesse em prosseguir com os projetos de outra forma, então o trabalho não será perdido. Devo ir postando aqui qualquer novidade.

Em novembro, vamos todos saber o que aconteceu.

Educação Governamental: Voucher feature
2014.09.20

Educação Governamental: Voucher

No Brasil, os dados não mentem: temos uma educação fundamental pública de péssima qualidade. Os desafortunados pais que não tem recursos para bancar uma educação em instituição particular terá de colocar seu filho numa escola do Estado (municipal, estadual ou federal). As chances de um futuro melhor diminuem imediatamente. Estas escolas são péssimas (na média estatística).

Origem 1

Um dos grandes problemas é que, até na constituição, há uma ideia que a educação básica é muito pulverizada, então seria mais inteligente deixar a cargo de prefeituras, enquanto os níveis médio e superior tem menos alunos e tem custos mais altos, então ficaria a cardo do governo estadual e federal, respectivamente. O que acontece é que grande parte das prefeituras no país são deficitárias, dependente de recursos federais como se fossem mendigos pedindo esmola. Sem recursos, o repasse para a educação fica seriamente comprometido. Professores com salários muito baixos não atrai novos bons candidatos e estrutura deficiente dificulta o aprendizado.

Origem 2

Há também uma constatação antiga: o estado é muito ineficiente para executar. Estar no fronte de combate requer uma agilidade que o estado não tem. Mesmo depois de anos com avaliações ruins, professores públicos não são demitidos, não se consegue construir ou reformar as instalações, e a pedagogia fica engessada.

O resultado é que temos hoje que dar cotas nas universidades para classes desfavorecidas, para compensar o enorme atraso educacional que tiveram na base. Temos de achar uma solução para a base.

Educacao governamental voucher 2.jpg

Vem então uma alternativa:

O voucher educacional

A ideia central é resolver um problema de dinheiro com dinheiro.

Ao contrário de ter uma rede de escolas próprias, o estado administraria somente o dinheiro, pagando mensalidade de alunos pobres que não tem condições de pagar uma escola. O custo-por-aluno seria, por certo, mais alto. Mas definitivamente mais efetivo.

Temos uma experiência parecida com o programa FIES, do governo federal. Nele, o aluno sem condições recebe um financiamento (um empréstimo) para estudar em uma universidade. Ao final do curso, o aluno se compromete a pagar o empréstimo com o dinheiro de seu salário, gradualmente. Uma iniciativa equivalente deveria ser implementada no ensino básico.

Fonte do dinheiro

Um sistema grande assim teria de ser administrado pelo governo federal. Mas os recursos deveriam ser compartilhados com as três esferas. O município contribuiria com uma parcela das despesas para os alunos residentes em seu território. O mesmo vale para o governo estadual.

Os estados teriam de privatizar as suas instituições. Além de levantar caixa para a iniciativa, deixaria de se preocupar com esta frente. Em bairros mais ricos, poderia fazer estímulos aos pais montarem uma cooperativa e adquirirem o controle. Para os mais pobres, qualquer rede que tenha interesse poderia levar. Com o orçamento anual em educação, as prefeituras teriam mais capacidade em contribuir.

Educacao governamental voucher 3.jpg

Beneficiados

Ao contrário do que se tem hoje, o novo sistema seria regido por apenas uma variável: dinheiro. Quem não tiver, ganha o benefício. Quem tem, vai pagar a mensalidade da escola normalmente. Isso corrige injustiças que deixam as crianças de famílias ricas terem educação de qualidade gratuitamente quando poderiam ajudar a financiar o sistema. Os cadastros existentes de programas como Bolsa Família e a Receita Federal poderiam ser usados para controlar. Na verdade, há uma janela boa para se centralizar estes cadastros.

O benefício deveria ter um escalonamento: quanto mais pobre a família, mais o estado contribuiria. Também poderia ter modalidades de empréstimo, mas é bem mais complicado executar isso que o FIES, já que os alunos do FIES em pouco tempo vão ter renda para conseguir pagar. Ainda sim, vale o estudo

A rede escolar

Logicamente os governos terão interesse em privatizar suas escolas. Visto que o cidadão poderá escolher quaisquer escolas privadas e terão a mensalidade paga, elas dificilmente escolherão as públicas por vontade própria.

A rede credenciada seria avaliada anualmente. O teto da mensalidade que o governo pagaria dependeria do desempenho da escola. Uma boa escola receberia um valor maior para cada aluno, enquanto uma escola ruim teria direito a um valor menor. Estes valores seriam controlados pelo Estado, e poderiam ter pesos diferentes nas regiões do país.

A rede particular deve ter faculdade a participar do sistema. Nada obrigatório. Afinal, é possível que alguma escola queira ter uma filosofia de trabalho especial e não abrir as portas a todos. Entretanto, deveria ter uma sobretaxa pela não-adesão ou um desconto em impostos para os aderentes. O estímulo econômico é o principal fator de seu sucesso.


Faz décadas que governantes prometem e tentam desenhar soluções para o ensino público. Faz décadas as iniciativas são ineficazes. Simplesmente não resultam em melhor educação. Os números são consistentes desde que eu aprendi a ler, literalmente: o ensino público é uma porcaria.

Esta é certamente uma proposta ousada. Mas é sem demagogia. É resolver o problema de dinheiro com dinheiro.

Bruno MASSA